Nada, ou tudo a ver. Viver por viver, ou viver entendendo que nem tudo é o que parece ser. Importa perceber que as aparências enganam, e que o brilho ilusório pode esconder sombras profundas. A humanidade foi, ao longo do tempo, induzida a conviver entre extremos: bondade e maldade, verdades e mentiras, esperança e medo.
Mais cruéis do que as ações dos chamados terroristas atuais — que a sociedade condena com firmeza — foram as mentiras silenciosas e persistentes, cultivadas por certas religiões que se organizaram não para iluminar, mas para dominar. Mentiras erguidas como templos, permanentes como muralhas, que mascararam e sufocaram a verdadeira independência do ser humano. Ao prometer salvação, tiraram proveito da fé para subjugar, enfraquecer e reduzir a grandeza natural da consciência individual, desviando-a de sua própria fonte de sabedoria.
Tudo a ver: a independência do ser. Pois nascer, crescer e viver deveria bastar como dádiva, sem dívidas, sem correntes invisíveis que oprimam o espírito. A vida, em si, é o fenômeno mais extraordinário, e não precisa ser adornada por mitos que somente encobrem o seu valor real.
Superar os deuses efêmeros — tantos que já existiram, tantos que ainda resistem somente pela força da tradição — é tarefa de cada consciência que se nega a permanecer na prisão da dependência psíquica. Muitos preferem não se desenvolver, optam por entregar sua liberdade ao conforto de uma crença abstrata, confiando que uma força exterior resolverá seus dilemas. Assim, livram-se das responsabilidades que a existência exige, eternizando uma essência submissa, dependente, escrava.
E é nesse abandono de si que se alimentam as fantasias, as fábulas, os mitos e as crendices. Nelas o ser humano se imagina grande, mas somente projeta uma força que poderia residir dentro de si. A verdadeira grandeza, no entanto, não está no culto a ilusões, mas na coragem de assumir o peso e a beleza da própria liberdade.