Sob um céu azul
magnífico, vívido, o chão ressequido de uma velha estrada
improvisada, em qualquer instante pode-se tornar úmida e vermelha.
Comentar sobre temas que não
conhecemos, é criar polêmicas, divagar, fofocar e confundir. É preciso
lembrar que qualquer reação pública em um sistema, seja individual ou
organizada, será qualificada como desordeiros seus atuantes; muitos
nomes podem ser dados a tais. Não pretendo entrar no contexto desta
questão, somente dizer que fui feliz em ter uma oportunidade de ir buscar uma
história verdadeira: Viver e estar presente em um destes momentos e
Movimentos. Bem-vindo a este espaço que não é somente meu, compartilhe sem
culpa, adentre no íntimo de um ser humano não alienado da realidade
arquitetada pelos homens. Equilibrado, mas de onde continuamente ressurgem
pertinentes indagações. Estreitando os limites de minha privacidade,
disponibilizando, expondo mais de mim mesmo a cada instante, sem receios,
prossigo tentando romper as barreiras existentes em todos nós, a de darmos vida
própria às nossas decisões e pensamentos, livre de influências, induções, não
reajo às dificuldades alheia em meu coração como sendo reflexo inconsciente de
rejeição; como alguns tentam explicar esse comportamento emotivo, a
de, poderíamos estar no lugar da vítima. Maravilho
o existir, pois o máximo se dá nela, a vida; cabe unicamente aos
seres humanos superar com sabedoria os pontos da criação. Acreditar em um ser
superior, um Deus, não faz de um ser humano uma boa e prestativa criatura. Não
acreditar em um Deus, não faz de um ser humano, uma
criatura maléfica ou insociável;
a capacidade de raciocínio nos dá à condição de
distinguirmos o que é cabível ou não em quase que em
sua totalidade, sendo um desperdício que poderia a muito ser
aproveitado em benefício de todos. Sigo poupando cada vez mais menos de mim
mesmo, para tentar compensar o que poderia ter contribuído para ajudar na
preparação para uma forma de viver cada vez melhor. Ainda que
exposto a severas contestações por parte de alguns em defesa de, como está, é o
melhor e o possível a ser alcançado; e nada mais adianta ser
tentado em prol da paz e do equilíbrio para os
humanos. Pensamentos como este não anulam os anseios daqueles
que refletem sobre o muito ainda a ser realizado. Considerando-se a eternidade
como base para as projeções de evolução podemos se quisermos ver o quanto
de imprudência cometeu-se no passado e, continuamos no presente.
Claro que as mudanças são gradativas, sim, mas, as naturais, mas dificultar o
processo da harmonia retardar o bem estar geral é afrontar a natureza
lógica e seus filamentos nas mentes pensantes. Porém, continuo
seguindo um pouquinho de minha parte como criatura que para existir,
necessariamente há de ser agregada. Mencionar alguma possibilidade, mesmo
remota, ainda que exija muita dedicação e abdicação, mas, levar às grandes e
boas transformações, equivale na mente de muitos a infeliz expressão... Isto é
utopia. Tentar contribuir por melhores relações entre as pessoas como
seres que se completam, intensifica em mim o prazer pelo existir.
Dar o meu parecer, delinear mentalmente boas vindas em mudanças,
não destrói o invólucro cristalizado pelas energias sutis a quais nos
compõem e, até onde os sentidos humanos não tateiam estão protegidos todos
aqueles que reconhecem os valores devido à vida. Por isso, ser humanista não
resulta em destruir nenhuma parte de meu ser, mas a de elevar a todos a um bem
maior e a uma melhor condição: Não me preocupo com o que há de vir com
conjecturas. Ao principiar, não seria assim, porém, não
que consistisse em única e vaga intenção simplesmente, a de passar para a
escrita meus pensamentos atendendo de forma errônea e simplificada o
preenchimento de uma lacuna de vaidade em tentar se projetar sem nada
de consistente, proveitoso, transmitir que vá atender de fato a
curiosidade ou mesmo por novas descobertas de como pode pensar um ser humano
sobre as mesmas questões relacionadas ao convívio em
grupos. Uma... Entre tantas outras histórias de homens
destemidos. Desta vez, presenciada por mim. (Sem terras). Antes,
porém, minha opinião sobre a mesma e sobre o tema; Com certeza, regras sociais
devem ser seguidas. Mas, habitat, terra, é um patrimônio de todos
universais. Deve ser excluída de valores capitais, ou no
mínimo facilitada ao máximo para adquiri-la. Desordeiro, violento, ameaça à
ordem social e de humanismo, é ter uma opinião de que um direito natural deva
ser controlado, violado. Após serem realizadas algumas reuniões pelos sem terras,
para decidirem quando e como seria a entrada na fazenda, resolveram
que teríamos de acessa-la durante a noite. A mim, pareceu estranha
esta decisão, afinal, era uma terra pertencente à União, uma área de
reserva castanheira, aliás, ex área, porque já não havia mais castanheiras.
Qual seria a razão de se ter tantos cuidados, porque não poderiam ser
vistos? Se não existiam documentos que tornasse o atual
morador proprietário legitimo, nesta condição também estaria sendo
ele um invasor. Comecei a pensar que teríamos sérios problemas
pela frente, só não conseguia imaginar de que tipo. Realmente não entendia
tanta preocupação por parte destes que estavam chegando.
É uma vista surpreendente da grandeza, beleza e imponência que a
natureza se transforma quando não tocada, destruída, faz transparecer em
sua ordem na divisão dos espaços a tudo acomodar, transformando em um belo sem
vaidade, um poder sem ser bruta, uma maravilha para humanos com sensibilidades.
Este lugar não é uma das maiores áreas da região se comparadas a tantas outras
que somente têm servidas para sustentar status, sentir-se melhor vendo o
outro em pior condição de sobrevivência. Segundo informações são em torno
de dois mil e quatrocentos alqueires, espaço a poder ser ocupado por muitas famílias de
sem terras. Para que se consiga visualizar a linha do
horizonte, é preciso abrir a mão e estendê-la bem rente aos olhos,
amenizando assim o impetuoso e supremo sol a nos atingir a retina com seus
raios brilhantes... Ouvira anteriormente alguns comentários que
nesta região, algumas áreas tomadas pelos sem terras aconteciam em comum
acordo, discreto, com seus donos. Supostos proprietários, porque
também não possuíam documentos legais, além de deixarem grande parte
das propriedades sem nada produzir. De certa forma, para muitos, esta
poderia ser uma saída para obter recursos, pois, se
desapropriados, neste caso saem até com vantagens; havendo
segundo fontes, casos em que as terras são indenizadas com valores
superiores aos de mercado. Esta grande fazenda onde estávamos
para entrar, somente uma área menor a considerada produtiva estava cuidada, a
maior extensão era composta por juquíra, uma parte anteriormente
desmatada que agora é formada apenas por uma vegetação rala que se forma assim
que a mata nativa é eliminada: Também aqueles com terras improdutivas em
uma situação de não poderem trabalhar, pois não possuem recursos, nem
conseguirem empréstimos ou incentivo de qualquer
natureza. Em pontos bem afastados da estrada, podiam ser vistos
pequenas formações da mata nativa, e mesmo assim, com raras árvores de grande
porte, evidentemente, sobreviventes às já extraídas entre outras,
como jatobá, cedro, canela, mogno, e tantas mais que no momento não me
recordo mais de seus nomes. Chegara á noite, estávamos agora reunidos
à margem do rio, ainda, outros continuam se aproximando em intervalos
irregulares: Alguns traziam consigo facões presos na cinta, e em
momento algum aquilo me deixou desconfortável, fazem uso deste artefato,
acessório indispensável para aberturas de picadas ou, mesmo para não ter que
por as mãos diretamente em algo que pretendam ver ou tocar que esteja no
chão. E onde estamos, terão que fazer uso
deles: Algumas espingardas sem cartuchos, sua carga é composta de
chumbinho, pólvora e bucha, usada para caça. Quanto mais
ia se passando o tempo, mais evidente se tornava a inquietude reinante
entre eles, percebi, que dali para frente a qualquer momento poderia haver
surpresas e, não seriam agradáveis. Não estava entendendo,
conhecendo um pouco da natureza humana e
suas reações frente às adversidades, como seria possível não
haver nenhuma resistência por parte daqueles que residiam no local?
Se bem que naquela hora, já era um pouco tarde para desistir, mas realmente o
clima não era próprio a de uma situação em que não estivesse sujeita a envolver
riscos, tinha a certeza agora que não seria simplesmente ir até a terra e
assentar-se. Eu poderia ter recuado, ainda estava em tempo, mas
sendo um autocrítico, e também em busca constante para tornar-me cada dia
melhor em meus relacionamentos sociais através de conhecimentos, jamais me
perdoaria por haver escolhido está alternativa; a de não ter atendido minha
razão e fugir, fugir às buscas, sempre soube que nada se realiza sem
objetivos, metas, riscos, sem busca contínua, sem acreditar, e eu precisava da
história, por essa razão me encontrava ali entre eles até aquele
momento: Queria levar ao conhecimento daqueles que desejam saber o
que realmente acontece neste seu mundo também, que pela falta de
tempo com seus compromissos não podem dispor de espaços em seu dia a
dia: Gostaria, como também era preciso registrar um acontecimento desta
ordem, em razão de somente termos ouvido falar a respeito, estava com uma
oportunidade de conhecer o outro lado da história, a outra versão dos
fatos. É uma reação popular justa, independente
das qualificações que deem para a atitude destas pessoas,
seria minha chance de registrar um destes movimentos, e este era o momento que
com certeza não poderia dispensar de maneira alguma. (Somente um
breve comentário, exceções fazem-se aos menos afortunados, alguns afirmam
que os mesmos não se realizam profissionalmente ou mesmo financeiramente
por total falta de interesse, esforço e dedicação por parte de cada um: Não é
verdade em sua total afirmação este dizer e, raríssimos se enquadram nesse
grupo). É característico do ser humano, adquirir e juntar
coisas, objetos, além da curiosidade nata; o progresso trouxe consigo
melhorias indiscutíveis, mas desfragmentou o autocontrole emocional para o
querer sem limites... Sem educação. Não somos caçadores de cabeça,
nem vivemos mais como os primitivos ou antigos produtores de alimentos nos
campos, usando as mãos como a ferramenta mais importante. Porque não
tiramos proveito no presente do progresso, e nos
tornamos verdadeiramente úteis a nós mesmos, ao grupo, à sociedade e
ao país? Mas isto, não somente na teoria com planos abstratos que não
se realizam. Deixemos os céus para nossas almas, não podemos deixar de viver o
presente, o agora, para vivermos somente no futuro as maravilhas que abundam em
nosso planeta, em nossas vidas: Existem as cores, o amor, a brisa, o
semelhante, o sorriso, o antes das lágrimas, a aurora, o mar, as crianças, e em
tudo somos capazes de produzir muito mais que consumimos nada há de faltar a
alguém. Percebe? Já vivemos em um paraíso, não fosse para usufruí-lo,
nossos sentidos e inteligência viriam mais tarde. Vamos cuidar bem de
nossos semelhantes, de nossas vidas tratando-a melhor, de nossa saúde, de nosso
conforto, da paz. Vivamos no presente o que há de melhor e não nos faça mal,
mas bem a todos. Quanto à posteridade, o que há de se seguir, caberá
às forças que regem o universo, a nos integrar em novas situações. E
estas, vão de encontro a cada ser humano, de acordo com seu coração, sua alma
pensante. Gostaria muito, mesmo, mas não é o momento de comentar sobre meus
pontos de vista ao que se refere à regularidade do bem estar do ser humano como
criatura integrada ao todo, aos riscos aos quais se expõe em acreditar
cegamente, confiar, abrir mãos de suas próprias responsabilidades como ser
racional à tutela de seu semelhante, menosprezando sua capacidade igualitária;
descuidando-se de suas pessoais e reais necessidades. Voltemos então,
para a margem do rio, íamos sendo envolvidos lentamente pela
noite, e em cada canto, um grupinho ia se formando, havia sempre três ou quatro
sem-terra, conversavam, mas, sempre atentos. Em cada rosto,
uma expressão diferente retratando um quadro nostálgico,
deixando transparecer a impressão de uma vaga consciência do que
realmente estava por vir. No grupo havia somente homens, não expunham suas
esposas e filhos quando havia, à sorte de seus intentos, há em
seus corações uma crença em um Deus de bondade, um Deus de justiça. Agradecem a
cada refeição, a cada dia, a cada suspiro. Sonham com dias melhores,
honradamente vindos através do trabalho e esforço de todos, não
trazem símbolos de guerreiros, tentam sobreviver com dignidade, não
desviam bens públicos nem privados: Não blasfemam acreditando em um Deus
e vivendo indiferente ao que o mesmo representa. Não roubam pelas
esquinas, escritórios requintados, não são acionistas de nenhuma empresa
fabricante de armas, não são parasitas, vivem sem ociosidades. É
impressionante como o ser humano pode ser produtivo quando se tem
liberdade: Os de bom senso, naturalmente empenham-se em ser participativo,
trabalham com satisfação mesmo com uma tarefa a consumir seu dia todo
de sol a sol, mas é feliz. ( E ainda dizem que a felicidade
não existe, tente se manter ocupado com trabalho e depois de
seu expediente, descanse, a expressão de seu rosto será suave.
Mas atenção, que a remuneração não seja acompanhada de piada, mas de justo
valor). No caso dos sem-terra, buscam seu espaço para viver e trabalhar,
resultando com isto em um ser enobrecido, satisfeito, importante para
sua família, amigos, a sociedade e a nação. São grupos de dezenas de
pessoas, todos com o mesmo espírito de trabalho. Se houvesse matas ainda,
teriam um uso específico, e se já desmatadas se tornariam em pastos. No caso de
áreas em mata, diversificariam com o plantio das frutas nativas, por
serem menos exigentes em seus tratos, zerando praticamente o uso de
defensivos químicos, exigindo somente mão de obra familiar. O que também
pode ser feito pelo próprio sem-terra se assim o desejar, é ter umas galinhas
pelo quintal, umas duas vaquinhas para providenciar o leite para a família.
Dessa forma, iam-se moldando os sonhos que na realidade, há muito já deveria
ser assim, sem nunca ter deixado de ser. A construção de uma improvisada e
modesta moradia erguida com troncos finos de árvores e coberta com folhas do
coqueiro babaçu: E ficar aguardando o tempo necessário até que INCRA e
governo negociem a terra para poder-se regularizar o assentamento. Não desejam
a terra para denotar poder, esnobar frente àqueles que nada possuem. Não
ouvi em nenhuma ocasião entre eles, planos de comercializar seu pequeno lote ou
mesmo em partes. Nem mesmo coisas como ficar deitados em suas redes
tomando água de coco até que o sol se ponha. Faz jus após
trabalhos sociais prestados, laser férias. O que estou dizendo é
a prioridade em seu íntimo, para o sem-terra o importante são bananas,
mandioca, arroz, feijão e tudo que puderem produzir ou criar. Podendo assim,
ir atendendo suas necessidades mínimas de sobrevivência, reservando
uma parte para suas duas vaquinhas. Tem aquele que pretende
criar somente gado. O homem do campo quando trabalha em sua
propriedade, tendo a família ao seu lado a esperar sempre, está-se
longe de compreender, dimensionar do quanto ele é capaz, o quando pode ser útil
para a sociedade. Mesmo para quem se encontra distante em outros
estados, pois, da boa quantidade das colheitas dependem o alimento e seu custo
na mesa de cada dia. Isto, se os operários da economia e controle na
área da agricultura e pecuária, desempenharem suas
tarefas adequadamente em prol da nação com
responsabilidade: Mas não, como é o caso da conivência
de políticos com investidores estrangeiros... Argumentando ter
admiração pelas florestas brasileiras, ocultam o interesse de se explorar as
áreas e a mão de obra barata do homem do campo e, realmente se sentem em
um paraíso sim, mas para sacar, tirar, sugar. Não afirmo ser o homem
do campo um exemplo diferenciado de bondade, o ser humano faz parte de um
mecanismo complexo e violento, a maldade é latente em todo cidadão sem
exceção: Para que ela se manifeste, basta que as circunstanciem a
favoreça. Lembrando que, uma reação para garantir
a sobrevivência com dignidade, não pode ser entendida como violência, violência e
trato relativo são merecedores aqueles que por banalidade, busca
por atender seu ócio, seu egocentrismo, tornando outros,
escravos. (Não me refiro àquela liberdade que segundo alguns, não há como ser
posta em prática, por não permitir tornar possível uma sociedade com
leis, indo à liberdade de uns ao encontro as de outros provocando conflitos.
Podendo gerar o caos entre os cidadãos: Deixando de ser possível
a convivência das pessoas em grupos com organização. Falo de outra,
sagrada, aquela que cada um tem a sua e não se molda á sistemas, esquema algum,
a liberdade natural do eu, imposta pela existência, a de viver com o
próprio pulmão, com as próprias mãos, com o próprio trabalho
individual. A liberdade a ser controlada que deve ser vigiada, é
aquela que pode criar problemas para toda humanidade; a liberdade de
não reconhecer o patrimônio alheio, geral, o direito
universal. A que torna possível e legal matar
ou escravizar se for necessário para se adquirir mais e
mais, a manter um escalão social abastado: A de poder ter sido
atendido suas necessidades, seus caprichos, sustentam uma ordem, não
se importando se é justa ou não. Quantos que com esta liberdade já
mataram por interesses próprios, defendendo classes, poderes, hierarquias,
quantas perdas de vidas barbaramente eliminadas e não foram motivadas
por razoes de humanismo ou defesa social; mas por bandidismo mesmo:
Sendo posteriormente o ato maquiado para
parecer heroico. Esta sim, escraviza o próprio ser e aos que se
encontram ao seu redor).
Talvez, eu possa parecer como um
relógio que repetidamente percorre seus segundos ao redor de seu próprio eixo:
Mas, sempre marcando um novo tempo para todos nós. Esta observação é em
razão de ocasionalmente dizer algo que provavelmente já tenha sido dito por
alguém. Não há pretensão de plagiar, mesmo que tenha a frase o mesmo
sentido. (O acaso não faz parte deste meu trabalho dedicado, se acontecer de
escrever algo que se assemelhe aos pensamentos de alguém que os teve um dia, só
reforça mais e mais a certeza de estar indo na direção certa.). Como na
democracia os homens são livres e, se não são capitalistas, pelo menos são
livres para sonhar, (risos) seguem com sua liberdade fazendo planos para, assim
que se assentarem, não digo invadir, quem faz isto é o Estado (pessoas), a
constituição garante o acesso à moradia, e mesmo se assim não estivesse
escrito, os homens devem viver pelo que lhe pertence: No entanto, os invasores
e desordeiros são os Estadistas (homens) que tem em seus empregos, entre outras
obrigações, a de se aperfeiçoar as leis e praticar a justiça, são estes seus
compromissos empregatícios. Neste momento, estamos prontos para
a travessia do rio, somos quatro pessoas, a fase da lua não é cheia, por
essa razão, podemos ver bem pouco a nossa frente, e temos de caminhar uns
duzentos metros até a margem onde esperamos encontrar uma canoa. A preocupação
com o que possa nos acontecer de agora em diante, começa incomodar. Noite sem
lua, copas escuras das árvores na outra margem, ruído incessante das águas
que se movem em forte corredeira chacoalhando galhos das arvores que se
encontra em sua margem, não há vaga-lumes. Penso comigo, pior para os
fumantes, não podem ascender seus cigarros, ficariam visíveis. Pássaros
noturnos iniciam seus voos rasantes por sobre nossas cabeças, mas não
nos tiram a atenção. Eu tenho um pouco de experiência com remo,
quando jovem, não deixava um dia sequer sem estar em uma canoa no Rio
Mogi-Guaçu em Guatapará, interior de São Paulo. Temos de nos apressar para
compensar porque, além de ser muita, a corredeira é forte. Vamos entrar com
calma na canoa e seguir, pelo menos, esta era a ideia. infelizmente,
não seria tão fácil assim, logo entramos em um redemoinho; você ai na
frente, vá desviando os galhos com as mãos sem segurá-los, porque me
atrapalha na impulsão da canoa, olha, tem água no assoalho da canoa, por favor,
não balancem, tentem ficar o mais imóvel possível: Pessoal, não dá para
continuarmos pelo lugar onde estamos margeando será melhor, só temos de tomar
cuidado para não nos emaranharmos nestes galhos que se sobressaem sobre e entre
as águas. Justamente por onde saímos parece ser o leito do rio, a
correnteza está muito forte aqui, vamos cruzar de vez para o
outro lado imediatamente. Cara olha essa água, está aumentando muito
rápido dentro da canoa, não balancem, não há nada com vocês que possamos tirá-la?
Vamos voltar desse jeito não podemos continuar; agora começa entrar por cima
também, vamos! É tarde, estamos afundando... Segura firme neste galho, não
podemos perdê-la (a canoa). A correnteza nos empurra sentido contrário ao nosso
destino existe um pedaço de corda na ponta da canoa que se usa para amarrar
quando na margem, com a mão em um ramo fino que de repente pode-se romper,
e a outra segurando a corda, só restava sob a água, tatear o barco e tentar
segurá-lo com os pés, e assim foi feito. Estamos cansados, mas não podemos
perder este único meio de se chegar ao outro lado, continuo com os pés
prendendo nosso transporte que está pesando cada vês mais. Alguém consegue
segurar a corda sem soltá-la? Muita atenção, pois vou soltar meus
pés. Todos saem exaustos do rio, silêncio por alguns momentos. Com a lanterna
podemos entender a razão do transtorno, um buraco no assoalho mal reparado,
havia quebrado. Foi cancelada a travessia, esta noite nos arranjamos
como pudemos, uns ficaram por ali mesmo, bem próximos, outros se
embrenharam pela mata um pouco mais distante improvisando tendas, somente
cobertura para proteger do sereno, não estávamos preparados para o que aconteceu.
Amanhece, e assim como o frio da noite vai nos deixando lentamente, o calor do
sol vai se acentuando. Meu corpo sente a estadia, embora seja o ambiente
externo de primeira classe, a natureza, as acomodações são rudes.
Nossa única chance de atravessarmos agora seria transportando menos pessoas
por vez, e assim foi feito, não seriam mais quatro, e sim duas. E assim,
todos chegaram. A noite nos havia deixado com resquícios de
desconforto por todo o corpo, o sol brilhante lentamente refletia sobre nós com
sua luz viva alimentando a vida e, nos fazendo baixar o
olhar. Uma boa parte estavam reunidos agora dentro da
fazenda. Apesar da decisão de entrar nesta área de terra ter sido
decidida, tomada já há algum tempo, havia pouca organização, pouca comida, sem
pães, enfim, triviais: Água disponível, somente a do rio, de cor
terra marrom bem clarinha e, nem um
pouco convidativa. O imprevisível torna
as expectativas assombrosas, claro que em situações de riscos, bem
diferente de uma ocasião de boas surpresas, eu pelo menos, esperava pelo
pior. Cafés eram feitos assim, ferve-se a água em litros de lata de
óleo usadas, após a ebulição, coloca-se o pó de café e aguarda que o mesmo se
assente no fundo, sem coar. Difícil era controlar o emocional por
aqueles que transpunham, adentravam em direção a sede da
fazenda. O caminho que estávamos percorrendo era uma
estrada construída a principio, com certeza, para escoar madeiras, chão
batido e cheio de pedregulhos. Nada havia plantado ao redor, a não ser,
desmatamento e uma nova mata, pequena e bem dispersa, capoeira, com pequenos
pontos de pastos e vazios na terra, isso é o
que víamos enquanto seguíamos conversando. Pela estrada,
enquanto caminhávamos ficava imaginando quão diferente os homens se comportam
para assegurar seu sustento do básico ao supérfluo. Existem aqueles
que não se acanham em se ter uma renda polpuda, argumentam que a constituição,
o sistema lhes garante o estabelecido e, nada de errado há nisso; conseguem
conviver em meio a outros que nem mesmo para o básico conseguem; apesar
de a constituição também garantir ao operário, com o salário recebido por
trabalhos da participação social suprir no mínimo o suficiente para se ter uma
vida digna. Eu, particularmente imagino, com o que se compra e tira-se
proveito em qualquer parte do planeta dos bens produzidos pelas sociedades com
o salário mínimo respectivo, bastariam exageradamente umas duas horas
diárias de trabalho. Não sou ant classista, não me intrigo com a
escolha distinta do direito e liberdade de cada um sobre suas preferências. O repugnante
é quando ouvimos alguém afirmar da necessidade da existência de
cidadãos sem recursos, pobres; não acredito que o mesmo defensor desta
funcionalidade, caso seja possuidor de bens, os dispensem passando a fazer
parte daqueles que nada ostentam. Na margem temos um banco de areia,
uma pequena nascente com água cristalina brotando, sua pureza nos brinda com
sua suavidade, o aroma do café fresco reanima seus amantes, enquanto descansam
e fazem os preparativos para seguir em frente. Resolvem ir após
terem preparado uma refeição, pequenos buracos no chão são preenchidos com
gravetos pequenos, folhas secas e algum pedaço de papel que possuíam: O
apoio no fogo para as panelas é a lateral, as bordas da pequena cavidade na
terra. Estamos seguindo pela estrada aberta há muito tempo, por onde
retiravam a madeira e, mesmo assim por ter sido coberta, revestida com
pedregulhos e pedriscos, estão em bom restado de
conservação. Um pequeno riacho sob uma ponte de madeira é
nossa parada, nos refrescamos e continuamos: Passado algumas horas, pois íamos
sem pressa, podemos ver de onde estamos a sede da fazenda. Lá no
ponto mais alto, a residência cercada e com uma grande porteira;
ao lado esquerdo um vasto pasto com muito gado espalhado
se alimentando. Já passavam das dezesseis horas, pelo dia ter
sido bem quente, sentia-me cansado e desejava umas horas de repouso, mas
não podia parar, é preciso acompanhar cada movimento, cada palavra que fosse
pronunciada. Neste momento já não há tanta conversa, caminham em
silencio, com pressa, mas com visíveis reações de dúvidas, entre prosseguir ou
parar. Até então, não se vê a presença de pessoas na casa, em sua
volta, mas não param continuam avançando; em frente à porteira, espalhados
encontra-se o grupo, uns mais ousados começam a falar e a gesticular, tem os
mais tímidos ou seriam os mais cautelosos. Após algumas batidas de
palmas, alguém aparece na porta, em sua companhia uma criança, um
menino, hesita em se aproximar da nossa direção: Quando um lhe diz
que só queriam entrar na fazenda, e que nada o comprometia, podendo
se tranquilizar Concordou, pediram para ele sair naquele mesmo dia
da casa, mas não foi possível, somente no seguinte. Eram muitos,
adentraram a residência, começaram a vasculhar todo canto que conseguiam;
quando perguntei qual a razão, e o que estavam procurando, foi me dito que
poderiam encontrar alguma arma e, realmente encontraram. Nesta noite, cada um
procurou um cantinho para dormir, menos dentro da casa, diziam poder ser
surpreendidos pelos pistoleiros ou até mesmo por policias mesmo sem
haver sido expedida uma ordem judicial. Passaríamos esta noite de improviso,
nada de rede estendida, ao redor da casa não havia árvores para isso, a lua
estava ausente pensei em cobras, aranhas, além do frio que começava a
fazer; procurei por um saco plástico onde, envolvendo minha cabeça tentando me
proteger e, em um canto junto à parede me deitei. Apesar de estar bem cansado,
meu sono demorava a chegar, enquanto isso meus pensamentos viajavam e, a
maioria deles com iniciativas e direções próprias, sem minha vontade; não fazia
ideia de como iria terminar tudo aquilo, o grupo não era pequeno, nitidamente
percebia as várias personalidades em cada um, calmos, comportados, abusados e
temerosos. Amanhecendo, do frio da noite posso sentir o calor aumentando
lentamente e o céu totalmente azul carregado de pequenos flocos de nuvens
brancas esparsas pelos lugares nas altitudes; dois grupos se formaram destas
pessoas, um se distancia bem da sede da fazenda, se acomodaram em uma casa e
abandonada, só havia mesmo a estrutura de madeira sem cobertura, uma mina ,
nascente com água bem fresquinha, ali eram estendidas as redes e preparadas as
refeições: Permaneci com o outro grupo, este, em uma casa já em melhores
condições, com banheiro, fogão, mesa e algumas camas, um poço onde podíamos ter
água sem problemas: O inconveniente estava em que esta residência encontrava-se
à estrada de transito da fazenda, o que me disseram ser ruim por deixar-nos
expostos quando da chegada dos pistoleiros ou qualquer ameaça; para mim,
ainda que fosse de risco, era importante que estivesse no local, desejava
registrar tudo fielmente. Permanecemos nesta área e condição por vários dias,
por vezes alguém ia até a pequena cidade para trazer alguma coisa em falta,
assuntos eram diversos, nada de absurdo ou extraordinário surgiam em suas
conversas que não fosse comum em qualquer grupo de pessoas que se forma. Mas
não demoraria em a rotina ser quebrada, de volta do vilarejo disseram-me ter
sido visitados por representantes de um órgão que trata destes assuntos de
terra com a notificação verbal de uma breve visita do INCRA: Suspeitei de tal
informação, por que agora, somente após quase dois meses, apareceriam dois
motoqueiros sem nenhuma identificação, sem um contato mais claro,
consistente...