A estúpida concordância fora de tempo: iniciativas e decisões apoiadas paralelamente pelo primitivismo e pelo intelecto. Estimula-se o querer sem limites, em todos os sentidos, seja no campo sentimental ou material. Tudo o que excede nossas necessidades básicas e individuais torna-se imprudente, ao tender a sair do controle e a provocar anomalias fatais como guerras, escravidão, abandono e miséria por onde houver seres humanos.
O instinto selvagem de matar para sobreviver garantiu a continuidade da espécie em um passado que chamo de eterno — eterno porque, enquanto houver futuro, o presente o acompanhará, e, com ele, também estará sempre o passado. Essa prática primitiva de matar para comer ainda ecoa, e é comparável àquela que, atualmente, justifica a escravidão de outros para satisfazer desejos fúteis. Há algo de leviano nessa necessidade humana de dominar e de viver na ociosidade às custas do outro.
Quase todos os seres humanos gostariam de viver como pássaros ou borboletas, voando livres, sem precisarem conquistar seu alimento. Sejamos honestos: ao buscarmos a melhor forma de convivência, perceberemos que os mesmos instintos bestiais do passado ainda moldam nossos comportamentos. E é justamente essa sede de extermínio, essa recusa em escolher o bem-estar comum, que perpetua a barbárie.
O querer sem limites é o combustível da humanidade. Ele alimenta guerras em que não importa quem é assassinado: crianças, animais, vegetais, o planeta inteiro. Tudo é devastado em nome da posse, da cobiça, do saquear o que pertence ao outro.
Muitos criticam os líderes que instigam guerras e escravizam. Mas não nos esqueçamos: somos mais de oito bilhões. A responsabilidade é coletiva. Some os governantes e os líderes religiosos — ainda assim, são minoria frente à população mundial. Então, por que seguimos permitindo os mesmos erros? Já passou da hora de rompermos com o comportamento primitivista e darmos o próximo passo na escala racional.
Fortaleça seu “eu”. Contribua com o desenvolvimento de uma cultura voltada ao bem-estar comum. Se isso acontecer, extinguir-se-á a famigerada arma: o corpo com cabeça de humano e comportamento de besta. Dignifique sua existência fazendo bom uso da razão, esse recurso poderoso que tanto negligenciamos.
Não é preciso integrar grupos por ser comum aparecerem aproveitadores. Tampouco é necessário repetir expressões vazias como “que Deus te ajude”. Se o semblante do seu rosto transmitir paz por onde passar, isso já será uma forma genuína de ajuda. E esteja certo: um rosto sem cara feia é contagiante.
Essa estúpida concordância entre racionalidade e primitivismo — esse instinto de tomar, subjugar e matar — precisa cessar. Muitos escolhem caminhos distorcidos, vendando os olhos, selando a transparência e impedindo a mente de compreender a maravilha de existir.
Este planeta é uma casa celestial. Um emaranhado de formas que lutam para se adaptar, sobreviver e continuar vivas. A simbiose é uma prova de que a vida quer cooperar, e não destruir. Se destruir fosse o caminho natural, a simbiose entre as espécies não faria sentido.
Temos um intelecto único. Ele não nos foi dado para tomarmos, matarmos e destruirmos, mas para usá-lo em favor do conforto e do bem-estar de toda a vida. Sem dores provocadas, sem guerras, sem fome e sem tristezas causadas por nossos atos inconsequentes.
Dignifique sua existência. Use seu rosto para transmitir paz. Use sua mente para construir um mundo em que todas as espécies possam coexistir. E, acima de tudo, rompa com a ilusão de que tudo existe para servi-lo. Não há maior grandeza do que a consciência de que somos parte de um todo que quer viver.
red9juarez